Por que as Limas Fraturam?
O artigo "Endodontic Rotary Files, What Should an Endodontist Know?" aborda a importância das limas rotatórias de níquel-titânio (Ni-Ti) na endodontia moderna, enfatizando a complexidade dessas ferramentas, os riscos de fratura e as inovações recentes em design e materiais. Ele discute as características técnicas e comportamentais das limas, apresentando orientações para minimizar falhas e otimizar os resultados clínicos.
A falta de padronização no mercado é destacada como uma das principais barreiras para a escolha adequada das limas, uma vez que as variações de design entre os fabricantes impactam o desempenho dos instrumentos. A fratura inesperada das limas é um dos grandes desafios clínicos, pois influencia diretamente no prognóstico do tratamento de canais radiculares. Para resolver isso, o artigo sugere que profissionais endodônticos desenvolvam um profundo entendimento sobre a estrutura e comportamento das ligas de Ni-Ti, além de técnicas de manuseio seguras e adequadas.
Primeiro temos que saber os principais tipos de ligas:
1. Liga Ni-Ti Convencional
Características: A liga Ni-Ti convencional contém cerca de 56% de níquel e 44% de titânio. Essa composição fornece superelasticidade e memória de forma, permitindo que o instrumento retorne à sua forma original após deformações.
Aplicações: É amplamente utilizada em canais de curvatura moderada.
Limitações: Apresenta menor flexibilidade e é mais suscetível à fratura por fadiga, especialmente em canais fortemente curvados.
2. Liga M-Wire
Características: Desenvolvida em 2007, a liga M-Wire passa por um tratamento termomecânico que melhora a flexibilidade e a resistência à fadiga cíclica. Contém uma mistura das fases austenítica e martensítica, que aumenta sua flexibilidade e resistência.
Aplicações: Indicada para canais com curvaturas acentuadas devido à flexibilidade superior em relação ao Ni-Ti convencional.
Limitações: Ainda que seja mais durável que a liga Ni-Ti convencional, pode sofrer fratura em condições clínicas extremas.
3. CM-Wire (Control Memory Wire)
Características: Introduzida em 2010, a liga CM-Wire é tratada termicamente para controlar a memória de forma. Apresenta alta flexibilidade e resistência à deformação, adaptando-se melhor às curvaturas do canal.
Aplicações: Ideal para canais complexos e curvados, pois se adapta sem criar estresse excessivo nas paredes do canal.
Limitações: Sob estresse mecânico, a CM-Wire pode perder a memória de forma, o que exige monitoramento constante do estado do instrumento.
4. Ligas Ni-Ti Blue e Gold
Características: Após tratamentos térmicos específicos, essas ligas recebem uma camada de óxido de titânio que aumenta a flexibilidade, resistência à fadiga e durabilidade. O Ni-Ti Azul tem uma camada de 60-80 nm, enquanto o Ouro possui 100-140 nm.
Aplicações: Usadas em canais complexos e curvos, onde a alta flexibilidade ajuda a reduzir desvios e a prevenir fraturas.
Limitações: Embora flexíveis, podem perder a forma após sofrerem grandes estresses.
5. HyFlex EDM (Liga Usinada por Descarga Elétrica)
Características: A liga HyFlex EDM combina a CM-Wire com uma tecnologia de usinagem por descarga elétrica, que cria uma superfície específica e aumenta a resistência à fadiga. Demonstram alta flexibilidade e resiliência.
Aplicações: Indicado para casos desafiadores, como canais extremamente curvados ou estreitos, onde instrumentos convencionais correriam maior risco de fratura.
Limitações: Requerem cuidado devido à sensibilidade ao torque, especialmente em canais estreitos.
6. MaxWire (Liga de Transição Martensita-Austenita)
Características: A MaxWire muda entre as fases martensítica e austenítica conforme a temperatura do canal. Em temperatura ambiente, está na fase martensítica, permitindo flexibilidade, e ao aquecer-se à temperatura corporal, assume a fase austenítica com uma curvatura predefinida.
Aplicações: Ideal para canais com anatomia irregular ou curvatura complexa, pois ajuda a manter o instrumento posicionado sem sobrecortar o canal.
Limitações: Precisa de um manuseio cuidadoso devido às propriedades de transição de fase, que podem ser alteradas pela esterilização e múltiplos usos.
Resumo das Ligas Ni-Ti
Tipo de Liga | Características Principais | Melhores Aplicações | Limitações |
Ni-Ti Convencional | Superelasticidade padrão, memória de forma | Canais de curvatura moderada | Flexibilidade limitada, suscetível à fadiga |
M-Wire | Flexibilidade e resistência à fadiga aumentadas | Canais de curvatura acentuada | Ainda vulnerável à fratura |
CM-Wire | Memória controlada, flexibilidade extrema | Curvaturas severas, canais complexos | Memória de forma pode diminuir com o uso |
Blue/Gold | Camada de óxido para flexibilidade e durabilidade | Canais curvos e complexos | Pode perder forma sob estresse alto |
HyFlex EDM | Alta resistência à fadiga, superfície usinada | Canais extremamente curvados/estreitos | Sensível ao torque elevado |
MaxWire | Transição de fase, ajusta forma conforme a temperatura | Canais irregulares e muito curvados | Requer manuseio cuidadoso |
Principais Problemas Identificados e Soluções Propostas
Fraturas por Flexão e Torsão
Problema: As fraturas ocorrem frequentemente devido ao estresse mecânico sofrido pela lima em áreas de maior curvatura ou travamento no canal. A fratura por flexão se manifesta no ponto de curvatura máxima, enquanto a fratura por torsão está associada ao bloqueio do instrumento no canal.
Soluções:
Seleção de instrumentos mais flexíveis, como as ligas termicamente tratadas, que incluem o CM-Wire e M-Wire, que possuem propriedades de memória controlada e alta resistência à fadiga cíclica.
Emprego de motores com torque controlado e ajuste da velocidade de rotação para cada tipo de lima e geometria do canal. Esse controle ajuda a evitar fraturas por sobrecarga.
Fadiga Cíclica
Problema: A fadiga cíclica ocorre quando o instrumento é submetido a deformações repetitivas, levando à fratura. Esse tipo de falha é comum em instrumentos que exigem múltiplas rotações em canais curvos.
Soluções:
Utilização de limas feitas com ligas tratadas termicamente que apresentam maior resistência a deformações e fraturas. Por exemplo, as limas feitas de M-Wire e CM-Wire são significativamente mais resistentes que as limas de Ni-Ti convencionais.
Preferência pelo uso de movimento reciprocante, que alterna o sentido de rotação da lima, reduzindo a carga cíclica acumulada e prolongando a vida útil do instrumento.
Efeito de Parafuso (Screw-In Effect)
Problema: Algumas limas possuem um efeito de parafuso que provoca uma força apical, puxando o instrumento para além do forame apical. Isso pode gerar danos ao tecido periapical e aumentar o risco de fratura da lima.
Soluções:
Escolher limas com designs de corte menos agressivos, como aquelas com “radial lands”, que minimizam a força apical e a chance de travamento.
A técnica de Glide Path é essencial para evitar desvios e travamentos. Ela prepara o canal previamente, reduzindo o risco de fratura e facilitando o uso das limas rotatórias.
Influência da Experiência do Operador
Problema: Operadores menos experientes tendem a ter maior incidência de fraturas, seja por tempo excessivo de trabalho com a lima no canal, pressão inadequada ou técnica incorreta.
Soluções:
Treinamento prático e atualização em técnicas como “crown-down” e o estabelecimento de Glide Path antes da instrumentação rotatória.
Limas de uso único são uma alternativa para evitar problemas causados pelo desgaste cumulativo das limas, sendo especialmente recomendadas para operadores iniciantes, que podem prolongar o tempo de uso inadvertidamente.
Fatores Ambientais e de Uso
Problema: Certos irrigantes, como o hipoclorito de sódio (NaOCl), podem corroer as limas de Ni-Ti, diminuindo sua resistência e aumentando o risco de fraturas.
Soluções:
É recomendável monitorar o tempo de uso e substituir as limas após sinais de desgaste. Manter as limas limpas e evitar o uso excessivo também ajuda a prolongar sua durabilidade.
No caso de esterilização, estudos mostram que as novas ligas tratadas termicamente podem ter uma resistência aumentada, e é importante seguir as recomendações do fabricante quanto ao processo de autoclavagem.
Número de Usos e Substituição de Limas
Problema: Embora as limas possam ser reutilizadas em múltiplos procedimentos, o uso repetido compromete sua resistência a fraturas.
Soluções:
Limas devem ser descartadas após o uso em canais complexos ou quando mostram sinais de deformação. A substituição regular reduz os riscos de fratura por fadiga acumulada.
Preferir limas de uso único quando o fator de segurança for prioritário, especialmente em canais curvos ou em procedimentos realizados por operadores menos experientes.
Conclusão por que as limas fraturam
O artigo conclui que para realizar tratamentos endodônticos com sucesso, é essencial que o profissional considere uma série de fatores, incluindo as características do instrumento de níquel-titânio (Ni-Ti) utilizado, as especificidades anatômicas do dente em tratamento e as próprias limitações do operador. A abordagem cuidadosa e o conhecimento detalhado sobre as ligas Ni-Ti, o design das limas e os modos de rotação ajudam a minimizar a incidência de fraturas inesperadas, melhorando assim o prognóstico dos tratamentos de canais radiculares.
Compreender o comportamento mecânico dos instrumentos, os avanços no design e a escolha do movimento rotatório ou reciprocante são fundamentais para reduzir o número de erros. Este conhecimento permite ao endodontista adaptar a técnica de acordo com as condições do canal e evitar falhas associadas ao uso inadequado das limas. Lembre-se que as limas fraturam.
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